quarta-feira, 30 de abril de 2008

Ele, a rapariga e os porcos!

Hoje, passei toda a manhã no Tribunal, desde as 09h.30m até ás 13h.00m, a desdobrar-me em julgamentos, sentenças e uma tentativa de conciliação. Tudo de enfiada.
Bom, mas isto para dizer o quê?

Com tanta coisa e tanta gente, lá surgiu mais uma pérola, resultado da prática da Advocacia, no Portugal profundo...

Ora bem , estava o julgamento já a acabar. Tudo muito certo, as coisas tinham-me corrido bem, estava só desvairada de fome e sede e a morrer por um cigarro.

A Srª Juiz, para dar por terminada a sessão, começa a inquirir o Arguido acerca das condições sócio-económicas daquele.

Sim senhor, e tal, que é agricultor, que trabalha ao dia, que é ...
...e agora começa a festa!:

É "esborciado" e "bibe junto com a cachopa", ao que lhe pergunta a Juiz, "que cachopa, a sua filha?"
"Não, a rapariga"
"Ó senhor, mas qual rapariga?!?", a Srª Juiz já desnorteada.
"A moça que bibe comigo"
"Ah, é sua companheira!", exclama a Srª Juiz e continua...

E eu mesmo a ver no que isto ia dar... só pensava... "Isto estava tudo a correr tão bem... "

Seguinte:
"Quanto aufere mensalmente"
" Ganho ao dia, tiro "práí", uns 70, 80 contos por mês"
Continua a Srª Juiz"Para além de si e da sua companheira, vive consigo mais alguém?"
Responde o fulano: "bibe a minha cachopa mais belha e a catraia da rapariga"

A expressão da Srª Juiz era um enorme ponto de interrogação. E eu a pensar: "muuuuiiiito booommm"

A Juiz fez um esforço e lá compreendeu que a "cahopa mais belha" é a filha mais velha e a "catraia da rapariga" é a filha da companheira...

Com um ar já algo desgastado a Juiz diz: "Olhe, para terminar, o senhor tem alguma prestação fixa por mês?"

"sim, pago a Segurança Social, o seguro e 300 contos de três em três meses, dum tractor que comprei."

A juiz faz uma careta e já furiosa diz-lhe "Olhe lá, se a sua companheira é doméstica, se o senhor é o único a ganhar lá em casa e tem ao seu encargo a sua filha e a filha da sua companheira, 80 ou 90 contos, não chega!"

Ele muito prontamente: "Prontos, mas a rapariga também dá umas horas e ainda temos os porcos, que ainda rendem uns bons 10 contos"

E eu a pensar "Os porcos?!?"

A Juiz já desesperada: "Ó senhor, então diga lá, em média, o seu agregado familiar, aufere que quantia mensal"

Resposta: "Ora bem, deixe lá ber, deve rondar os 150 contos, entre eu, a rapariga e os porcos".


sábado, 12 de abril de 2008

Eu, as conversas na rádio e a “Prova Oral”


Gosto de programas de rádio com conversas ou de conversas.
Gosto de noticiários e de “fóruns” de discussão. Gosto mesmo de ouvir pessoas a falar…

Ouço invariavelmente Antena3 e as pessoas que lá conversam, só mudo à hora certa para ouvir as notícias, ou o fórum da TSF, quando viajo a essa hora.

Como há anos que conduzo mais de 100 Kms todos os dias e sozinha, quem me faz companhia são os senhores e senhoras que conversam na rádio.
E, ouvindo todos os dias os mesmos sujeitos, a falar na primeira pessoa, sobre gostos e desgostos, curiosidades, preferências e coisas do quotidiano, surgem necessariamente laços e empatias. Unilaterais é certo, mas que resultam para mim, que os ouço, numa sincera familiaridade.

À custa das conversas que vou ouvindo, interiorizei factos e particularidades da vida dessas pessoas. E porquê, pergunto-me tanta vez?!?! Quando leio uma qualquer entrevista, numa qualquer revista “del corazon”, não retenho nem meia linha, leio e acabou, está lido… passa à frente e siga a fila!
Porque é que com as pessoas que conversam na rádio é diferente?

Bom, os relatos são feitos pelos próprios, ao vivo, em conversas dispersas… se calhar por isso, retenho-os como se tivessem sido relatados a mim, numa conversa, num jantar de amigos… como se fossem meus amigos.

É tudo muito informal, sincero, espontâneo, não é resultado duma entrevista, com frases feitas, lugares comuns e clichês absurdos.
Parece-me tudo tão "real life"… sem existir ao mesmo tempo, qualquer devassa da vida privada. É porreiro, pá…

O que me levou a escrever este post foi precisamente um programa de conversas, na Antena3, onde também nós, podemos conversar – Again É porreiro, pá.

E porque é que, é porreiro, pá??
Bom, principalmente durante as viagens de regresso a casa, aproveito para fazer todo e qualquer tipo de telefonema: Para as minhas amigas, para a minha mãe, para a minha empregada, para o Sr. que me está a fazer uns móveis, para o cabeleireiro a marcar hora, para o dentista do meu filho, para os meus colegas de profissão, para os meus clientes… só não ligo para a minha cadela porque ela não fala ao telefone… ainda.

O problema é, que esgoto rapidamente a minha “quota” de telefonemas…

E depois, ligo a quem, caraças?
Bom, ligo para a “Prova Oral”… é como já disse em cima, depois de tantos anos a ouvir as mesmas pessoas a conversar, eles também já são amigos…

Já liguei e entrei em directo algumas vezes, umas intervenções correram melhor que outras, mas afinal… são assim as conversas… umas melhores, outras piores.

Só não entendo o espanto de algumas pessoas: “Foste tu que ligaste ontem para a “Prova Oral”?!?!?
Fui, porquê?!?!? Há crise?!?!?

E já ouvi todo o tipo de comentários:
Os delicados como: “foi giro”, ou “estiveste bem”
Ou os incrédulos (e são estes que não entendo) como: “tens uma lata”, “foste mesmo tu?”,
A última que ouvi foi esta: “Hei pá, que tristeza, ligaste para quê?”

Não entendem, eu passo a explicar:
Eu ligo para conversar, qual é a grande interrogação acerca disto? Não ligo para ser ouvida, ligo para conversar, Ponto Final.
Paragrafo: Quando ligo identifico-me só com o nome próprio e a idade, não digo sobrenome nem profissão. Não é por ter vergonha do meu sobrenome, ou da minha profissão, nem pensar, é porque se os disser, vai dar azo a mais comentários palermas.

“O que é que anda (ou não anda) uma Advogada a fazer, para ter tempo e pachorra para ligar para um programa de rádio, será que não tem trabalho para fazer ou coisas sérias para resolver?”

Eu respondo: TENHO PÁ! E MUITO!
Mas trabalho deslocada do sitio onde moro, faço mais de uma centena de Kms por dia, e em virtude do tipo de situações com que tenho que lidar todo o Santo dia, no final só me apetece desligar, deixar de pensar, de raciocinar, de alegar, de litigar… e enquanto conduzo...

...Conversar!

terça-feira, 1 de abril de 2008

Acordo Ortográfico - Parte II


Cá está mais uma pérola da ortografia!

Passo a explicar:

Pedi a um cliente do meu escritório, para me trazer o nome, morada e profissão, das pessoas que ele queria arrolar como testemunhas, num processo que está em Tribunal.

Este fabuloso manuscrito que acima se mostra, foi o papel que o senhor deixou ao meu funcionário!


Achei por bem disfarçar algumas informações, mas Valha-me Nossa Senhora!

A pessoa que escreveu isto, tem pelo menos o 9º ano de escolaridade e cerca de 40 anos!


Já conheciam a profissão "Dono do café Cantinho"?!?!?!?!?!?


E o "polissia" que tem de sobrenome "Preira Gonssalves", hã?!? Que por sua vez mora na "Santofemia" (leia-se Santa Eufémia)!


E o outro senhor "Preira" (ao menos é coerente), que tem como profissão "Cambara de Castelo de Paiva"


É o que temos, senhores!