segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Moral da história, é-me muito dificil ultrapassar esta merda toda

Aconteceu-me uma coisa há uns meses que me magoou profundamente.
Quer dizer, já me tinha acontecido outra, que me tinha magoado incomensuravelmente mais e por causa disso andei aí como um cão da rua e por causa disso andava sem pêlo e magra como um cão da rua e sem ninguém que me desse um osso para eu me entreter, enfim, andava aí mesmo toda fodida.
Esse circunstancialismo, o do cão da rua, fez com que de vez em quando rosnasse e mostrasse os dentes.
Mas não era a quem me dava um osso de vez em quando, não, que a essas pessoas, mesmo sendo da rua, eu cão era agradecida, era a pessoas que se estavam bem a cagar para o facto de eu estar um cão da rua.
Ah, era uma cão tão lindo e agora anda prái a rosnar e a mostrar os dentes ou então a passar pela gente sem abanar o rabo, o cabrão do cão.
E então, um dia, alguém vai de fazer queixa à Camara Municipal, a dizer que andava ali um cão mal disposto, a rosnar sem ter razão.
Os fiscais da Câmara vieram logo, de açaime e com aquelas cenas que são um pau comprido com uma argola na ponta, que é para agarrar o cão de longe, não vá o bicho morder, ou uma merda dessas.
Encontraram-me acossada, encostada ás redes, sem possibilidade de fuga, e eu ouvia-os dizer, que sim, era um cão sarnento, malcriado e mal disposto, que já lhe tratavam da saúde, que ia ver o que era bom para a tosse... e a pessoa que chamou os fiscais toda exaltada a dizer, levem, levem, que não faz falta a ninguém, não abana o rabo, não senta nem rola, não faz nada de jeito o raça do cão, isso, isso, levem daqui esse animal...
E se bem pensaram, os fiscais assim fizeram, atiraram-me com o tal pau, apanharam-me pelo pescoço, fui de zorro até à carrinha que me conduziu ao canil.
Eu sabia que era uma questão de tempo até lá meterem outro cão da rua igual a mim.
Mas no tempo que lá passei sozinhinha, só pensava mas por que caralho aquela gente não foi capaz de me dar um banho, um prato de comida e uma manta para eu me deitar?
E depois, se eu ainda assim mordesse na mão que me deu de comer, então entregavam-se a quem quisesse aturar cães de rua mal agradecidos...
E como dizia no inicio, isso magoou-me profundamente.
Porque nem a um cão da rua, quanto mais a mim... fôda-se!

2 comentários:

I. disse...

Pô. Que história. De uma gata que já foi escaldada, assanhada e acossada a um canto, a soprar e a mostrar as garras, mas a quem alguém deu um pratinho de comida, uma mantinha e, enfim, festas, tenho a dizer que não, isso não é maneira de tratar ninguém. Olha que eu também não fui parar ao gatil por um triz, por vontade de algumas pessoas tinha ido, e isso também me magoou profundamente. Mas, felizmente, houve quem não desistisse.
Olha, há gente deste lado. Forcinha, e se rosnares, pois rosna, toda a gente tem direito aos seus dias maus.

salgados disse...

Foda-se!