quarta-feira, 14 de maio de 2008

Os fatinhos e as pastinhas



Hoje estive presente numa coisa chata que se chama, “assembleia de credores”.
E quantos mais credores houver, mais Advogados se juntam.
Hoje, éramos aos verdadeiros magotes.
Cerca de 40 Advogados e Advogadas (mais aqueles do que estas, contrariando as estatísticas), tudo junto, numa sala de audiências.

Ainda esperamos uns bons 45 minutos, para que fosse aberta a assembleia e durante este tempo, mantive-me relativamente à parte… A observar, que é das coisas que mais gosto de fazer.

Só passados uns bons minutos me dei conta de uma coisa extraordinária:

Só EU não tinha uma pasta toda executiva, gorda, cheia de livros e códigos,
E só Eu não tinha um fatinho…

Ora, no que aos senhores Advogados concerne, eu entendo e subscrevo que devem apresentar-se devidamente “fardados” com um fato em condições, sapatos impecáveis e uma gravata jeitosa. E nada a opor quanto à pasta.

Agora quanto ás senhoras… eh pá, que monotonia brutal! Porquê, senhoras?

O panorama era mais ou menos este:
As senhoras Advogadas todas com os seus fatinhos da Sacoor, ou então, o que é pior, fatinhos da Zara, daqueles que brilham… (que só de olhar já me arrepiam) e sapatinhos bicudos. Ah e camisas de riscas… que já ninguém aguenta.

Os fatos eram quase todos da mesma cor e atrevo-me a dizer que alguns seriam até iguais!!
Tudo de cinzento, castanho ou creme, estes últimos são os meus favoritos, porque assim todas de creme vestidas, parecem um werthers original.

Para além disso, tinham todas umas pastinhas muito “Sr.ª Dr.ª”, invariavelmente castanhas, ou então, o que é pior, da marca “Cavalinho”, a condizer com a carteira. Jesus!

Pois eu, não gosto de fatos. São monótonos e enfadonhos.
Também não gosto de pastas, só atrapalham, a menos que tenham rodinhas.

No entanto, para a ala feminina desta profissão, parece que a única forma de afirmar o lado “doutor”, é vestir um fatinho e passear uma pastinha.

Não dá para mim… Gosto de vestidos, vestidos, vestidos, gosto de sapatos coloridos, altos, baixos, de salto fino, de salto grosso, de túnicas, de blazers com calças de ganga, de vestidos por cima das calças, de carteiras grandes e pastas com rodinhas, camisas brancas aos montes, enfim.

Enquanto esperávamos, comentei com um colega meu, esta minha posição quanto aos fatinhos e ás pastinhas

Diz-me ele: “É pá, veste lá uma calcinha de vinco e um blazer igual, ficas mais compostinha…

“Hã?!?!?!?! Eu já te digo o compostinha, queres ver?”

Chamaram-nos para entrar.
Sentaram-se cerca de 40 Advogados na plateia da sala de audiências, a Sr.ª Juiz e a Sr.ª Procuradora nos seus lugares e o Sr. Administrador da Insolvência na bancada que costuma ser para os Advogados.

Estava tudo pronto, a Juiz dá por aberta a Assembleia e pergunta se alguém tem alguma coisa a requerer.

Levanto-me EU.
“Srª Juiz, só ontem tive conhecimento do Relatório da Insolvência, ainda que o mesmo tenha sido apresentado pelo Sr. Administrador há 8 dias atrás, uma vez que o artigo “tal e tal” do código “tal e tal”, concede aos credores o prazo de 10 dias para se pronunciar sobre o mesmo e sendo que esse mesmo prazo ainda está a decorrer, Requeiro que seja suspensa a presente assembleia.”

Burburinho… Burburinho…

O Sr. Administrador opõe-se, mas a Juiz dá-me razão e defere o meu Requerimento.

Pronto. Missão cumprida, meus senhores passem muito bem.

Sai tudo da sala de audiências, num burburinho medonho, a maior parte deles desconte com o desfecho, entre eles o meu Distinto colega do “compostinha”.

E vamos todos embora.
Eles com os fatinhos e as pastinhas,
E eu, encantada da vida, com a missão cumprida, com os processos debaixo do braço e hoje, de vestido preto e sapatos verde alface…

3 comentários:

Quebra Ossos disse...

mntnhbjA vida é cheia de preconceitos e em algumas classes como na dos advogados, cheio de regras ("não escritas") de como vestir falar etc.
Tal como no Direito, na vida, nada é absoluto e existem (graças a Deus excepções.
Tinha o sonho de ser um dia juiz, com o tempo, talvez devido à minha falta de confiança, hoje vejo com bons olhos ser um simples advogado...digo simples porque identifico-me com a tua opinião, ser simples é ter bom gosto sem estar preso a padrões preconcebidos e desactualizados.
PS: A competência não necessita de camuflagem, o mesmo não se poderá dizer da ignorância!

Rachel disse...

"Quebra Ossos", deixa-me dizer-te, se quiseres ficar por cá (leia-se na advocacia), prepara-te para "comer o pão que o Diabo amassou”, isto está pela hora da morte.
É uma selva e um salve-se quem puder.
Tudo a atropelar-se uns aos outros, tudo a ver quem esfaqueia mais e melhor o adversário!
Sim, porque no tempo do meu pai, eles eram todos colegas, agora, somos todos adversários, salvo raras e honrosas excepções, das quais muito me orgulho de ser Colega e Amiga.

Quebra Ossos disse...

Sempre gostei de desafios e de marcar a diferença.
Já estou no mercado de trabalho há muitos anos (noutra área de negócio) e pela experiência que tenho arriscaria a dizer que não é só na advocacia que isso acontece.
São consequências do consumismo desenfreado, da competição, etc...
Tenho pena é das crianças, que passaram de filhos para serem pequenos objectos de competição entre os pais. É natação, aulas de piano, ballet, inglês, etc,etc,etc...Têm que ser os melhores em tudo, ter o namorado de sonho, o emprego de sonho, enfim na maioria das vezes o resultado é a angustia por não ter conseguido nada disso. A fasquia está alta demais por isso as pessoas atropelam-se para conseguir os objectivos.
O segredo está em descer a fasquia, a minha está muito baixa porque apenas quero ser feliz, juntamente com aqueles que amo!