terça-feira, 11 de outubro de 2011

Faz amanhã 16 anos e estava assim um tempo destes...


Um calor insuportável. um verão, em Outubro, de meter medo.
Os meus pés calçavam o 40 e tu pesavas 3.250kg.

E agora cá estamos nós, não é? Não têm sido fáceis estes últimos tempos, pois não?

Nós os dois sempre de candeias ás avessas, tu a declares-me uma guerra tal, que nem as conversações ao mais alto nível, fazem prever o cessar fogo, eu a aguentar sabe deus como...

xiça, pá, tenho umas saudades tuas!

saudades do menino que eras e um medo do caraças de que te tornes um homem parecido com o adolescente que és... não gosto nada.

Ainda agora me ligou a avó, toda triste, a dizer que tu estás um bicho do buraco, que amanhã vem jantar contigo, mas que tem a sensação de que vir ou não, te dá igual. Eu acho que ela tem razão, mas não lhe digo, descansa.

Eras tão querido antes de teres esse teu metro e sei lá quanto, muito mais do que o meu metro e sessenta e três... estás tão grande...

Bem sei que não facilito a tua vida.

Bem sei que deixar-te à tua sorte, assim, sem rede nem nada, sem ordens ou indicações, sem qualquer preocupação por ti, sem exigências, deixar-te só a pizas e computador, era mesmo de rei, não era?

Mas porra, pá, eu sou tua mãe!

É suposto as mães serem umas chatas de vez em quando...

Não te esqueças é que, nos separam uns verdes 20 anos e que se não fosse a educação madura que tentei desenvolver para ti, isto era um Brasil! Forró e praia o ano inteiro e responsabilidade zero! como a tolerância que tenho contigo, no momento...

Sabes que cada um tem o seu papel e o meu é ser rigorosa.

Espero é que tenhas noção de que me partes o coração a cada resposta torta, a cada ordem não acatada, a cada ronco, a cada deixa-me!, a cada oh vai começar outra vez...

Já te fiz várias declarações do meu amor, mas até fico um bocado triste, porque isto do amor das mães nem sequer devia ser declarado, ó pá, está lá, vai fazer amanhã 16 anos que está lá, um amor que nasceu faz amanhã 16 anos e que não vai para mais lado nenhum a não ser para ti, uma coisa que nasceu quando tu nasceste, sei lá... não se explica....

e depois tu chegas a esta idade, em que a vida para ti, é só andar nela a toda a força, em duas rodas de preferência, rodeado daqueles moços que lá enfias em casa, uns mais bem educados que outros, (que eu não me esqueço do que o Gabriel escreveu no meu carro, mesmo sabendo que era meu... ) ás vezes acho que vocês em geral e tu em particular equiparam-se, em termos de cérebro, ao da tua irmã que tem dois anos... a única diferença é que vocês sabem mandar sms em velocidade furiosa e ela ainda não....

enfim...

sabes que escrevo de rajada e raramente releio o que escrevo, por isso é que grande parte do que escrevo, depois não faz sentido, mas tu vais entender, pois é?

é que nisso és igualzinho a mim, humor parvo e um bocado idiotas, não é?
 
Amanhã há carne assada e o tal bolo de chocolate. Como querias.

Pode é não haver saída no sábado à noite, ainda vou pensar, mas o que te quero dizer é: ainda que te diga que não podes sair no sábado à noite e ir ao sitio que querias ir, e chegares a casa ás tantas da manhã, ainda que isso aconteça, tens que entender que alguém tem de fazer esse papel... e em vez de me jurares ódio eterno, tenta lembrar-te daquelas alturas em que chegávamos a casa, depois de te ir buscar ao colégio ás sete da tarde, há uns anos atrás e cantávamos a plenos pulmões os dois: não tenho nada, mas tenho tenho tudo, sou pobre em ouro mas rica rica em sonhos

eu sei! eu sei! é a musica da Floribela! 
mas admite, divertia-mo-nos bem mais do que agora, com a musica do Skrillex, ou lá o que é aquilo que tu andas a ouvir...

Love,
Mãe.

16 comentários:

Unknown disse...

Podes não acreditar, mas chorei ao ler o teu texto...

Dani disse...

Grande declaração de amor... sim porque amar não é dizer sim a tudo, não é deixar à sorte. Ele um dia (próximo... muito próximo) vai agradecer lhe teres indicado o caminho.
Parabéns a ele e a ti por seres assim!

Helena disse...

E como uma adolescente prestes a fazer tambem 16 anos, adorava que a minha mãe me escrevesse um texto assim (:

Pirilampa disse...

Espectacular...

Rita Carvalho disse...

Obrigada por ter partilhado também connosco esta mensagem. Obrigada por ajudar quem passa por coisas e dúvidas semelhantes, apesar das idades diferirem bastante... é que (e eu sei que sabe) eles começam a andar depressa e em duas rodas tão, mas tão cedo!!! Sinceramente, OBRIGADA! [e quando achar que há gente que não a lê, por falta de comentários, pense antes que há gente que prefere lê-la a deixar comentários - tendo de gerir o tempo nesse sentido]

*XS* disse...

Todas as mães deviam ter um blog. :)

Nós sabemos que elas nos amam e que sofrem quando somos rebeldes demais e nos desviamos do caminho que elas julgam melhor para nós. Mas olha que lido como tu escreveste, acredito que a mensagem passe bem mais facilmente do que se fosse simplemente ouvido.

Beijinho, muita força e amor a transbordar.

Carla disse...

Tenho uma filha de 7 anos e queixava-me eu da rebelia dela!! Acho que tão cedo não vou esquecer este teu desabafo, tão sincero, tão claro, és uma mente brilhante, volta Raquel!! Força aí, esta fase há-de passar e mesmo que ele não reconheça o que importa é que o estás a proteger!! beijinhos

Pedro Duarte disse...

Tenho 25 anos e na idade do seu filho pensava exactamente da mesma forma, afastei-me da minha mãe, do meu pai, acho que tinha mais afinidade com os colegas da escola ou mesmo do autocarro para ascola do que com os meus pais... a verdade é que hoje o melhor que tenho na vida a melhor arma para me defender e a coisa em que tenho mais orgulho na vida são os meus pais e a educação que me deram, muito mais do que um curso superior. são eles os meus melhores amigos são eles que vão ficar sempre a meu lado nos bons e nos maus momentos, são eles quem procuro para ouvir opiniões.. não moro com eles, felizmente já comecei a construir a minha vida, a ter as minhas coisas, mas estou cada vez mais proximo, cada vez com mais brincadeiras parvas, mais telefonemas durante o dia, mais beijos, abraços, mimos, presentes, viagens... acredita que os tempos da Floribela vão voltar, acredita que ele vai perceber todos os raspanetes, acredita que um dia vai chegar á tua beira e perguntar, como é que aguentas-t?

sylvie disse...

Lindo!!

Clara disse...

apoio moral de uma mãe de adolescente de 12 anos cujo mantra é "mãe, que chata!".

[de vez em quando ainda há uns vislumbres, como quando foi passar um fim de semana a casa de uma amiga e não comeu durante dois dias porque a mãe da amiga não é "chata" - nem sequer sabe se os filhos estão em casa ou noutro lado - nesse dia fui fantástica por obrigar a comer fruta no fim do jantar].

isto é tão bom, terapia de grupo para pais de adolescentes!

rititi disse...

Tão bonito. Mesmo.

rititi disse...

Tão bonito...

Anónimo disse...

MT BOM
abraço
mãe sofredora

Anónimo disse...

Que fazia tempo que não vinha aqui dar sinais, fazia. É bem verdade. E vem atrasado, tambem e bem verdade, mas nao podia deixar de comentar porque está, como ja foi dito, lindo, espectacular, brilhante, isso tudo e mais um queijo. Esta porreiro, pah! Mesmo. E sabes que mais Rachel? Fazia tempo que nao escrevias uma coisa assim, como tal: welcome back.
Agora sobre o texto, e como alguem que ainda ontem usava fraldas, ainda que os cabelos brancos nao o confirmem. Tu nao ligues quando ele desdiz por "odio" o que outrora disse por amor, as criancas sao crueis, nunca ouviste dizer? E acredita que ele percebe a tua posicao e tasl como te cabe ser chata a ele cabe lhe insistir e ripostar, e fa lo sendo mauzinho e dizendo as coisas mais descabidas, que e o que tem ao seu alcance. Nao duvides nunca do amor que ele te tem, que isso do amor de mae nao e unilateral, tambem ele nutre por ti um sentimento inexplicavel que nunca se esgotara e que te pora sempre como a primeira mulher na lista de prioridades dele. Com isto despeco me com um grande beijinho. D.

Quebra Ossos disse...

Já tinha Saudades...Magnífico...quase que chorei...quase uma merda ...Chorei mesmo!

Pulha Garcia disse...

Muito bonito, Rachel.