quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Nem sei que nome dar ao post.

Hoje estou de escala de prevenção, que já de si é um nome manhoso comó craças, dá logo a impressão que estou de piquete, como os gajos da EDP.
Graças a Deus está a acabar o semestre e seja ceguinha se vou voltar a inscrever-me neste sistema, que só dá dores de cabeça e rende uma miséria que é paga tarde e a más horas.

Estava eu a pensar nisto e apeteceu-me tecer uma ou duas considerações, não que sejam pertinentes ou de especial relevância para os desígnios nacionais, regionais, ou outros, mas tão só porque são importantes para mim, e isso por si só, neste blog, basta.

De todas as prendas que me saem na rifa, quando estou de piquete, normalmente estou-me basicamente a marimbar para os gajos que conduzem bêbados, para os que conduzem sem carta, para os que chamaram boi e corno ao vizinho do lado, para os que andaram ao chapadão na via publica… portanto, para aqueles que sabemos de antemão que vão sair do Tribunal com menos uns euros na conta e pouco mais que isso.

Não me interpretem mal, ó hostes fundamentalistas da defesa dos direitos dos arguidos e dos deveres dos Defensores Oficiosos. Acalmai-vos!

Explico: Por norma, estes fulanos e fulanas são maiores, vacinados – quer dizer, alguns deviam ser vacinados também contra a raiva e não são, e isso coloca-me em perigo, mas tudo bem – dizia eu, normalmente são grandinhos, estavam perfeitamente conscientes do que faziam, que a conduta que levavam a cabo, conscientemente, não é permitida por lei e mesmo assim, escolheram ir em frente sem medos.
A esses, meus amigo, a malta tenta sacar a pena menos gravosa e pouco mais há a fazer, é como encher chouriços. Não dá pica, é trabalho ás vezes quase indigno. Há quem se baste com isto e goste, eu não.

Mas quando se trata de crianças e jovens com menos de 16 anos, a musica é outra.
Numa das minhas escalas, chamaram-me da GNR para estar presente no interrogatório de um arguido menor de idade.
Fui.
O gajo com cabelo à Songuku, nem para mim olhou, acenou com a cabeça, como os burros quando lhe debitei a cantilena habitual, boa tarde Sr. fulano, o meu nome é fulana de tal, fui nomeada para estar presente no interrogatório de arguido, para o qual foi o senhor notificado.
Nada.

Estava com mais 6 iguais a ele. Perguntei as idades ao Cabo. 16 anos, todos. Vão ser todos ouvidos. São suspeitos de terem agredido brutalmente um miúdo com 13 anos, partiram-lhe dentes, um braço, o miúdo ficou internado quase um mês. 7 contra um, é o que consta da queixa crime.

Estava eu à espera, dentro das instalações e ouço um burburinho tremendo lá fora.
Estava a chegar o Ofendido. Um miúdo com cara de pânico, ladeado pelos pais, com um braço ao peito e lágrimas nos olhos quando entrou.

Fiquei doida! Levantei-me logo. Achei um ultraje!
Convocaram todos, suspeitos e ofendido, tudo para a mesma hora?!?!?!?!
O miúdo estava apavorado, chorava a dizer que queria ir embora, os pais a tentar acalmá-lo, mas em vão.
Os outros lá fora a chamar todo o tipo de nomes, seu cagão, vens com os papás, vais ver vais, isto eu ainda ouvi, depois fiquei cega e surda.
Fiquei louca, passei-me.

Saí, eles todos sentados num banco de metal, mandei um pontapé no banco que fez um estrondo tremendo e com berros contidos só disse:
CALOU JÁ. CALOU JÁ. Eu não quero ouvir nem mais um pio.
Acho que foi do susto e do inusitado da situação, mas calaram-se.

O miúdo lá dentro a tremer. Ao menos que o tirassem da recepção, qualquer coisa.

Eu a ver aquela cena triste e a pensar, E se fosse o meu filho?

E se fosse o meu filho, armado em cabrão, com mais seis amigos a desancar com porrada o filho de outra mãe, com menos três anos, só para lhe sacar o dinheiro das senhas do almoço?

E se fosse o meu filho a levar uma carga de porrada do outro mundo, de seis gajos mais velhos que ele e ficasse com um braço ao peito?

De uma forma ou de outra, tenho a certeza que a conformação, discurso instrutivo e recurso ás vias próprias, não me bastava.

E agora, Ide! Ide fazer queixa de mim, Ide! IDE! E já agora Ide também ser sodomizados por um pinheiro, OK?

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