quinta-feira, 24 de julho de 2008

Dignidade? Mas qual dignidade?

Advertência:
Este post é um desabafo que se prende com a minha profissão, porém, não vou entrar em considerações sérias e pertinentes acerca do estado da Advocacia em Portugal.
Não o vou fazer por duas ordens de razões: primeiro, porque este Blog é tendencialmente “light” (com o propósito único de manter a minha sanidade mental) e segundo porque acerca disso já discursa (DEMAIS) o Sr. Bastonário.

Adiante!

Anteontem, na rádio, estavam uma data de Ilustres colegas meus, em polvorosa, a tecer sérias e extensas considerações acerca da dignidade da profissão de Advogado e o estado da Advocacia em Portugal, nos tempos conturbados que correm.

Tudo muito bonito sim senhor, a dignidade para aqui, a independência do Advogado para ali, a isenção da profissão face aos demais agentes da justiça, para acolá, enfim, mais do mesmo.
Mas depois do dia que eu tinha tido, aquilo pareceu-me tudo, um absurdo.

Nesse dia, tinha feito julgamento, num Tribunal que estava em obras.

Entre carpinteiros, pintores, marceneiros, electricistas, testemunhas, Juízes, Advogados, funcionários do tribunal e criancinhas a correr pelo átrio fora, havia de tudo…
Só faltavam cães!
Uma confusão que ninguém imagina.
Gajos a furar paredes com berbequins, a lixar o chão de madeira com umas máquinas gigantes que fazem mais pó num segundo do que o pó sinifado pelo Maradona a vida toda, um cheiro a tinta fresca, capaz de “ganzar” qualquer um, gritos estridentes de criancinhas a correr de um lado para o outro, que mais pareciam gaivotas furiosas e um calor absolutamente avassalador.

Lá entramos todos para a única sala disponível, que mais parecia uma arrecadação (se calhar até era).
Não havia ar condicionado. Com o peso da Toga em cima, cinco minutos depois do julgamento começar, já eu destilava!
A caneta escorregava-me da mão com a transpiração, o que tornava a simples tarefa de tirar apontamentos, uma tarefa inglória.

Meia hora depois, estava como se estivesse a fazer um belo dum banho turco, toda melada.

Uma hora depois, acho mesmo que já não cheirava ao meu exquisite perfume do Narciso Rodrigues e sim à mais básica e indigna transpiração de um trabalhador braçal.

Nojento.

Sei que quando sai daquele inferno de Dante e despi a mal fadada Toga, o que se tinha passado durante o julgamento, ou a dignidade da profissão, era a ultima das minhas preocupações…
Até me apetecia chorar, de tão indigna que era a minha figura.
A minha linda camisa branca da Globe estava toda emporcalhada. Nas costas uma mancha enorme de água (para não dizer suor) e junto ao cinto, toda manchada do azul Denim das minhas belas calças de ganga escura, que tinham entrado no Tribunal com um vinco impecável e saído como se fossem um trapo, mal engomado.

Mas pior, a minha recente franja, cortada "à Heidi Klum" (versão morena), toda colada à testa e o pescoço cheio de alergia, do colar da MD, que de tanta transpiração, até oxidou.

Dignidade da Profissão?
Mas qual dignidade, caramba?!?!?!?

1 comentário:

Miguel F. Carvalho disse...

eu deixei de raciocinar quando li "franja, cortada "à Heidi Klum""... lol lol lol