terça-feira, 30 de março de 2010

Eu e o Sociopata

Ora bem, o magnifico sistema (o judiciário, não o outro, que eu de bola não entendo), mandou-me para aqui uma pérola.

Hoje recebi um indivíduo, que está a braços com a possibilidade (muito real, diga-se) de ser internado compulsivamente e que podia muito bem, estar a protagonizar um thriller psicológico daqueles que metem mesmo muuuutio medo!

Breve nota: Quando marco este tipo de consultas, normalmente não tenho qualquer tipo de informação acerca do processo ou da pessoa que vou patrocinar, para além da mais básica possível. Neste caso, a única coisa que sabia era que se tratava de um internamento compulsivo e este pode ser pelas mais variadas razões, ás vezes até, manifestamente infundadas.
Podia saber mais?
Podia. Se tivesse tempo para me deslocar ao tribunal de cada vez que recebesse uma nomeação oficiosa. Como não tenho, opto por saber em primeira mão, quando eles se deslocam ao meu humilde domicilio profissional.

Entrou altivo.
Não me estendeu a mão, acenou levemente com a cabeça.
Acenei-lhe da mesma forma e indiquei-lhe a cadeira com um gesto, ja a vociferar mentalmente, senta-te ó malcriado dum corno.

Ainda sem falar estendeu-me um molho de papéis.

Eu: O seu nome completo?
Ele: Está aí nos papeis, é só ler.
(há bom! Que riqueza de menino!)
Eu: Com certeza, ora bem, lálálálá…

E nisto, dou de fuças com um monte de fotografias impressas em tamanho A4.

Diz-me ele: Isso são cópias do que a minha mãe entregou no tribunal.
É por causa disso.

Pois é,
O “Disso” é que lixou tudo.
Porque, para além da crueldade das imagens, que como é evidente não posso mostrar, embora muito me apeteça, tomo consciência que já existe um Relatório do perito do Instituo de Medicina Legal do Porto, que caracteriza o individuo como Sociopata ou portador do Transtorno de Personalidade Dissocial.

Eu, que já lidei com pedófilos, assassinos, abusadores de esposas indefesas e mais sei lá quanta porcaria, tenho a dizer-vos, que pela primeira vez na minha vida profissional, me senti muito, mas mesmo muito desconfortável.

É que era tal e qual o Hannibal Lecter, mas em jovem, de 22 anos.

7 comentários:

Venezia disse...

Bolas!!!!
Mas conta mais que eu fiquei curiosa!!!!!

Pulha Garcia disse...

Charming, na verdade. Parece ser um belo rapaz.

(se precisares de uns contactos para psiquiatras com experiência de tribunal, diz)

Rachel disse...

Venezia,
Conto-te pelo telefone...

Pulha,
Deixa ver como corre. Mas vai na volta ainda te peço os contactos.

E olhem que sonhei com o maldito!

Quebra Ossos disse...

Da próxima vez que tiveres com ele pede-lhe um "oftografo" para a minha filha mais nova.

PS: Não foi um erro ortográfico...é mesmo assim que a piquena diz!

Rachel disse...

Quebra,
Oftografo?!?!?
Isso sim é que é uma delicia!!!

Mas não vou poder, ele pelos vistos não toca em nada. Deve ser também compulsivo, ou essas cenas, porque não tirou as mãos dos bolsos do casaco a não ser para me entregar o molho de papeis.

Cláudia disse...

Como te compreendo...hoje acabei de saber que uma das "m/ pérolas" ameaçou com uma arma um rapaz que teve a ousadia de o interpelar por ele estar a sovar a mulher no meio da rua!
Aqui há uns tempos tive de dar uns valentes berros a um nesse género (mas ainda só estava na fase da inabilitação requerida pelo pai), os meus sobrinhos que chegaram entretanto para me visitar ainda hoje me perguntam se "aquele cliente com quem eu uma vez estava a gritar" voltou ao escritório. Felizmente não! Mas não há problema que a "reposição" não falha!!!

C disse...

E renunciar a isso, não?